sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sobre o inflamável espírito natalino...


Numa dessas noites de natal, que eu nunca sei bem o que fazer, meu querido amigo e poeta Cesinha convidou alguns desgarrados do natal para uma espécie de ceia. Junto à mesa, um inesperado boneco do papai noel aguardava os convidados e convidadas. Estava numa posição central, como que observando todos os movimentos (e pensamentos) dos presentes. Parecia meio assustado com os olhares e risadas que o ridicularizavam. Perto da meia noite, quando já estávamos de barriga cheia, nosso anfitrião tomou o bom velhinho no colo e o levou pra fora, onde o acomodou confortavelmente numa fogueira armada. Nós, também já ligeiramente embriagados, clamávamos pelo fogo, até que nosso poeta abriu uma folha e leu um manifesto. Era quase que uma sentença de morte ao bom velhinho. Um blá blá blá inflamável, por assim dizer. Ao final, novos clamores: “queimem o bastardo!”, “viva o saci!”, “toca Raul!”, e por aí afora. O manifesto foi colocado junto da fogueira, e antes que o velhinho entrasse em combustão espontânea pelo calor do momento, nosso poeta declamou finalmente seu fósforo incandescente. A êxtase do povo ao redor durou cerca de um minuto (foi o tempo de eu tirar essa foto). Um silêncio gélido tomou conta dos que testemunhavam aquela cena, rompido rapidamente pelo choro de uma criança que estava ali e que os pais já a afastavam. E o silencio insistiu. O fogo, por si só, já chama por introspecção. Mas no meio da chama estava o velhinho, aquele que marcou a infância natalina de muitos ali presentes. A cena virou poesia, daquelas que nos devoram em imagens. Queimávamos por dentro. Descobrimos um papai noel dentro de cada um de nós, que no momento ria da gente de um jeito sarcástico, se vingando das chamas que agora já o lançava ao ar que todos ali respiravam. As brasas deixaram a sensação de um exorcismo. Depois do gelo do fogo, novos brindes e os sorrisos voltavam aos poucos.

O que penso disso? Que o bom velhinho existe, mas a boa notícia é que ele é bastante inflamável!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sesshin de inverno, ou sobre como tatuamos por dentro...

Duas pernoites na casa Vila de Fátima, entre os dias 23 e 25, no alto de um morro entre o silêncio da lagoa do peri e o som das ondas da praia da armação. Totalizaram-se cerca de 9 horas intervaladas de meditação shikantaza (termo em japonês que significa “apenas sentar”), além de cerimônias e recitação de sutras. Estes primeiros dias são os piores, pois é como disciplinar o corpo e a mente para um novo comportamento e rotina, tão habituados ao comportamento automatizado do dia a dia. Um retiro budista da escola soto zen (ou sesshin) é algo único.

O único barulho que escutávamos, além dos miados, uivos, ronronados e latidos peristálticos característicos de cada um de nós (especialmente as 4 horas da manhã), era um tic de um relógio que marcava outro tempo estranho… seu ponteiro dos segundos se entregava à gravidade silenciosamente, e alertava apenas sua subida, para então cair de novo em silêncio. Comportava-se como o constante som das ondas do mar, marcado também pelo silêncio e pelo som. E passava a comportar-se como minha mente. Ou tudo isso de trás pra frente e vice-versa! O que quero dizer é que houve uma sintonia de silêncios e ruídos. E do lado, bem do lado mesmo, o absoluto zen da lagoa do peri. Como que um norte para a calma e a paz, o silêncio total existia ali por dentro e por fora.

Tudo no sesshin é feito em silêncio. Ocasionalmente, o voto de silêncio é rompido apenas por uns sorrisos ou palavras que escapam, meio que acompanhando a insistência da mente em querer se manifestar a todo custo.

Nesta casa de retiros, compartilhávamos nosso tempo, mas não nosso espaço, com um retiro de praticantes de yoga. Achei graça de uma refeição que fizemos no início. O refeitório dividido: de um lado o silêncio quase comparável a um velório (para um olhar desinformado), de outro, gargalhadas orgásticas. Introversão e extroversão lado a lado.

As refeições no zen são rituais, e nunca se come a comida quente como ela chega. E o tempo para se comer é outro… rápido, por incrível que pareça. No desjejum e almoço, as refeições são feitas em um oryoki (“apenas o suficiente”). Abrir e fechar um oryoki exige sincronicidade e atenção, e seguem um procedimento único. Comer, acordar, levantar, meditar… tudo é sincrônico. Como o monge Genshô lembrou, o grupo comporta-se como um cardume de peixes ou um bando de pássaros no ar: todos se movimentam juntos, como um organismo apenas. A atenção é total.

O sutras são escrituras sagradas recitadas em coro. Um em particular, o sutra do coração, contém a essência do pensamento budista. Particularmente acho gostoso cantá-lo em japonês, a partir do livro de sutras de onde acompanham-se as recitações. Tem um efeito especial. Mas em uma refeição acabamos por recitar sua tradução. Confesso que cantá-lo assim, traduzido, foi doloroso…. É como cantar “garota de ipanema” em japonês. Perde-se não apenas a musicalidade, mas talvez uma força histórica contida naquelas palavras centenárias contidas no sutra. Essa força eu sinto quando estou meditando, e digo para mim mesmo “zazen!” quando o macaco louco que todos temos em nossas cabeças insiste em agarrar-se nos galhos que vão passando. O macaco respeita essa palavra, e consegue parar por alguns segundos (ainda domestico esse animal!). E é muito diferente de quando digo “medite!”, ou então “silêncio!”… A palavra “Zazen” parece carregar força, intenção. Pode parecer meio místico, mas percebo que essa “força da palavra” existe em sua forma original, e não em sua tradução. No centro Zen Budista que pude participar na Nova Zelândia, os sutras eram recitados em inglês. A sensação foi a mesma. Penso que os sutras esterilizam-se quando são traduzidos…

Uma resposta adequada à pergunta “foi bom pra você?” ao final de um retiro sempre ficou como um mistério pra mim… O retiro em si não é algo prazeiroso. Aliás, está longe disso. Cheguei a conclusão de que um retiro é como fazer uma tatuagem: enquanto não acaba, dói. Mas não sofremos com isso. É pura dor física com hora pra acabar. Quando terminamos a tatuagem, fica aquela sensação de leveza, de alívio, de realização. O final de um retiro é parecido, mas a sensação perdura por dias. E se na tatuagem é a pele que fica marcada pra sempre, no retiro é algo aqui dentro de nós que guardamos pra sempre. E é uma tatuagem ao contrário: em vez de preencher, ela esvazia.

E outra: como numa tatuagem, quando terminamos um retiro, já estamos pensando no próximo!

Gashô!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Proibido para menores de 25 anos...!

O cartaz em cada caixa do supermercado não deixava dúvidas. "Bebidas alcólicas não serão vendidas a pessoas que aparentarem menos de 25 anos. Não se ofenda, por favor".

E lá fui eu... na hora do vinho, tão desejado para a noite de filme que me aguardava, o jovem do caixa me disse que não poderia passar o vinho nas compras. Na falta do passaporte, mostrei dois documentos onde se lia claramente "date of birth", mas a resposta, desconfiada, foi "sorry for that".
Eu tentei. Ofendido, eu? Saí 7 anos mais moço do supermercado, com um leve sorriso no rosto, e um suco de laranja na mão. Que vinho que nada...!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma volta pela ilha sul... e não pelo sul da ilha, Zé!

Pois é... foram 7 dias, com um roteiro que procurou pegar o filé da ilha sul (e me perdoem a expressão carnívora - sou um vegetariano que gosta de alguns tipos de filés). O tempo não ajudou muito, mas também não tirou um outro brilho das paisagens que com o sol não se vê...

Wellington foi a primeira parada. É a capital da Nova Zelândia, conhecida pela chuva e vento frio. Difícil dizer o que eu achei da cidade, mas no Youth Hostel tinha uma lista de 100 coisas para se fazer na cidade quando chovia. Pois é. E choveu. E choveu. Aliás, recomendo este hostel. A diversão foi no museu ao lado: Te Papa. Enorme, e que merece mesmo a visita. São 5 andares de muita coisa (pulei o último por geralmente me faltar paciência para arte contemporânea). Cultura maori, biologia, educação ambiental... e tudo "de grátis"! No mais, chuva....

Wellington está no extremo sul da ilha norte. Para chegar na ilha sul é preciso pegar um Ferry desta cidade, até Picton. São 3 horas de viagem, cruzando o Estreito de Cook, que separa o Oceano Pacífico do mar da Tasmânia. O tempo deu sua outra graça, e uma janela de sol acompanhou o barco. Alucinante. Algumas fotos aí embaixo pra dar uma pequena ideia das paisagens:



Em Picton, nada de mais... uma cidade com vocação pesqueira, e basicamente de passagem. De lá, um trem super panorâmico para Christchurch, com direito a 6 horas de viagem pela costa. O tempo fechou novamente... mas rendeu boas paisagens. Não parece ter tempo feio aqui nesta terra. Ou melhor,  nada que comprometa muito as paisagens. E sempre digo que a chuva tem seu charme (por isso me recuso a chamar o tempo fechado de "feio"). Nesse trem, a combinação de umas cervejas com o último vagão todo aberto é ótima. Pra quê né?!

 

Christchurch é chamada de "cidade jardim". De fato, não tem muito mais coisa ali. Jardins e jardins. Mas no hostel não tinha "100 coisas para se fazer na cidade com chuva". Com tanta chuva, o jardim virou museu. E o caminho para o museu foi num bondinho "fofys" que circula pela cidade. Até o motorista é retrô. Um brinco. Com muita chuva, pode-se passar o dia inteiro no bondinho dando voltas pela cidade. Sendo o trajeto de 10 minutos, depois da 4a volta isso fica meio monótono... E a dica pra quem enfrentar essa situação de chuva nesta cidade: roupa de chuva (venta muito para guarda-chuvas). Um ótimo investimento. Parques botânicos em dias de chuva tem seu charme - eu sei que posso estar forçando a barra, mas eles ficam vazios de seres humanos, e os pássaros parecem cantar mais...

De ônibus, o próximo destino era Queenstown, há 9 horas. Geralmente se faz em 8, mas o tempo (ah, o tempo)... o tempo propiciou a primeira neve do ano na Nova Zelândia!!! Isso num trecho da viagem, cuja altura era de cerca de 700 metros. Muita neve. E muita roupa (com a roupa de chuva por cima!). E a neve é charmosa. Ah é...



Queenstown é um brinco. Pequena. Aliás, minúscula. Mas intensa e aconchegante. Mas um alerta pra quem vai fazer aventuras: tudo custa os olhos da cara. Um pulinho de bungy mais barato sai por mais de R$200. E daí pra cima... A aventura foi subir a gôndola e curtir a neve no único lugar que ela caia com vontade na cidade (a foto do meio ali embaixo). E ela caia só ali em cima... e na cidade, embaixo, chuva... e chuva... E charme demais enche o saco, "néam"? Ah, e a terceira foto aqui é a vista do quarto do hostel... hm!



E os últimos dois dias foram azuis azuis. O sol saiu com vontade, e deu uma luz intensa ao caminho para Milford Sound. São 300km de Queenstown, cruzando paisagens indescritíveis, e incontáveis lagos e montanhas... Agora olha as diferenças nas fotos:



É. O sol tem outro charme. Milford Sound é uma cidadezinha (se é que se pode chamar assim) fica no litoral oeste, banhada pelo mar da Tasmânia. O sul inteiro da ilha sul é formada por fiordes, penetrados por este mar. É algo de tirar o fôlego. São como falésias de quase 2 mil metros de altura, em ângulos de quase 90 graus, com pedras nuas que mergulham violentamente nas baías que o mar forma neste litoral. Milford fica em uma destas baías. Estes fiordes são resultado da ação de geleiras imensas do período glacial, que sumiram e deixaram estes recortes brutos e imensos. Tudo ali é maiúsculo. A última foto é a "mitra do bispo", com quase 1,7 mil metros de altura, e mais 300 pra baixo da água.


E o retorno, do azul para Auckland... charmosa... :-/

Ps.: Dudu... a bicicleta não rolou. Super me empolguei, mas o azul não chegou a tempo de me programar para aquele passeio. Mas valeu a dica. Rendeu suspiros! :)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma semana na Ilha Sul... até que enfim!!!


Antes que o frio chegue de vez, porque não um pulo na ilha sul? Afinal, o artigo está quase pronto (porque "pronto pronto" ele nunca vai estar), a pesquisa piloto com estudantes de medicina e biologia está nas mãos de alguém do comitê de ética, e o questionário de pesquisa está tinindo...

Então: até Wellington de avião, até Picton de Ferry (cruzando o estreito de Cook), até Christchurch de trem (pelo litoral), até Queenstown de ônibus (no meio dos alpes), e até Milford Sound  de carro (pelo meio dos fiordes - dica da Tetê!). Uma semaninha longe da quase-asiática Auckland.



O que penso disso tudo? Que meu mês de folga na NZ tem que ter quatro semanas, e não uma!!!

sábado, 1 de maio de 2010

O próximo episódio de Avatar...

Então. Desculpem o apelo a Hollywood, mas alguém aqui do governo não viu Avatar. O governo Neo Zelandês (John Key, mais especificamente) parece estar num romance com a indústria de mineração. E o pior: em parques nacionais - o que para um país que vive muito do turismo, é algo bem negativo. Alguém já ouviu falar em Coronmandel? Great Barrier Island? São alguns dos paradisíacos locais onde uma mineradora pode se instalar muito em breve e abrir aquela cárie infame, lembrando de longe a Pedrita, no Rio Tavares (em Floripa). O argumento? Mais empregos. The same old bullshit...

Atividades de turismo político era o que mais gostava de fazer quando morei na Bélgica por um ano. A Conferência do Clima em Haia (Holanda), os violentos protestos de Gênova (Itália) no encontro do G7... (que ar mais nostálgico!). Mas é onde se encontram as pessoas mais interessantes, mais coloridas. Dá pra sentir uma unidade no ar. E aqui as crianças fazem parte dos protestos, desde pequenas. Aliás, isso será assunto para outro post: "Coisas que os pais/mães neozelandeses fazem que deixariam os pais/mães brasileiros horrorizados". É bom pra perceber o quanto exageramos na criação da prole. A coisa aqui é mais easy-going... menos neurótica...

Neste primeiro de maio aconteceu uma manifestação organizada por várias entidades ambientalistas e afins. Muita gente. Muitas cores. E muito divertido! Não deu pra pegar tudo da manifestação, mas deu pra ter uma idéia do que foi. E com direito a voz dos nativos, por supuesto - aliás, que povo mais bonito. Os maoris se cumprimentam com um gesto que é lindo demais: encostam a testa e o nariz um do outro, e ficam assim por uns segundos de olhos fechados... Esses carinhas são avatares...

O que penso disso tudo? Que mineração é sacanagem... e das brabas!!!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pobre lady knox...

Em Wai-O-Tapu tem um geiser. Seu nome é Lady knox. Então, como ia dizendo, tem UMA geiser em Wai-O-Tapu. É uma das principais atrações do parque vulcânico. Todo dia as 10:15 da manhã ela entra em atividade, e fica assim por cerca de uma hora. Pensei: "que perfeição... a natureza é mesmo fantástica". Ao redor da Lady, uma arena, e centenas de espectadores com suas câmeras apontadas para ela. Eu me incluo nisso. Olhava para o relógio, e perto das 10:14 já estavam todos olhando fixos para aquele pequeno monte esquisito, esbranquiçado e fumegante. Confesso que cheguei a brincar com a idéia de sair com a câmera e flagrar um funcionário do parque, escondido atrás das árvores, abrindo uma válvula as 10:15 em ponto. Mas aquela fumacinha gorda que escapava daquele montinho dava alguma esperança de que a coisa aconteceria naturalmente. Mas que válvula que nada! As 10:15 entra um Lord em cena. Um figura com um microfone entra falando sobre como a Lady "funciona", e simplesmente joga sabão em pó dentro da moça - ou nas palavras dele, um sulfactante biodegradável. Eu diria um sabão desagradável. Pois é... que válvula que nada... "Omo"!
A Lady então começa a vomitar uma espuma grossa e branca antes de jorrar sua água fervente a 20 metros de altura, provavelmente muito puta da cara! Não sei como os outros turistas reagiram a isso, mas eu confesso que me senti um palhaço. O Lord falou que o ciclo natural dela varia de 24 a 36 horas... nada de preciso, mas são ciclos. Como em qualquer Lady que conhecemos. Tem seu charme. Mas é óbvio que inguém pagaria pra ficar ali horas esperando o ciclo natural se manifestar. E sem aquela espuma. Valeu a experiência. Impressiona, e dá tema pra refletir... Depois do espetáculo, vem o passeio pelo parque. E nessa foto aí do lado? Fiquei pensando no truque. Êita.... e vamo que vamo!

O que penso disso tudo? Bem sabemos das erupções das Ladys humanas... e se der sabão em pó pra elas? Ui...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Feriadinho esticado de páscoa na NZ...

   Foram 1300 km pra conhecer o miolo da ilha norte. É a área de maior atividade vulcânica do mundo. Dá pra sentir no ar o cheiro de enxofre, que se acostuma as narinas. Foi uma rota de muito mar, montanha, lagos, florestas e cachoeiras. A primeira noite foi em Te Araroa, num farol isolado do mundo, no ponto mais oriental da NZ. É também o ponto mais próximo ao Brasil, para alguns. Dizem que o primeiro raio de sol do dia chega ali. E chega muito bem. A segunda noite foi em Gisborne, terra onde o capitão Cook chegou pela primeira vez nestas terras em 1769, quando era chamada pelos Maoris de Turanganui-a-Kiwa. E o resto da história não é muita novidade pra gente. A terceira e quarta noite foi em Rotorua. O caminho pra Rotorua foi pelo parque nacional Te Urewera (primeira foto), com uma floresta típica densa, com um lago respeitoso, o Waikaremoana. Duzentos quilômetros de verde, água e ar puro. E sabemos que chegamos em Rotorua pelo cheiro de ovo podre que reina no ar. A chegada mesmo foi marcada por um feliz encontro com águas termais num parque público da cidade, num escalda pés deliciosamente (e naturalmente) quente, em meio a piscinas que jorravam no ar um vapor de enxofre. Como disse, as narinas se acostumam aos poucos.

  Com a base em Rotorua, Wai-O-Tapu (segunda foto) foi um passeio inesquecível. Um parque com trilhas em meio a diversas formações vulcânicas, das mais diversas cores e nomes ("berço do diabo", "tinteiro do diabo", "portal do inferno" e todos nomes que assustariam qualquer cristão mais fanático). Indescritível... Uma aventura pelo rio Waikato com o Jet Rapid - uma lancha que anda a quase 90km/h, fazendo manobras insanas em meio a águas cristalinas, com ponto final na Huka Falls, um dos pontos turísticos mais visitados na ilha norte. Dá pra se sentir um playboy. Mas passa. E no último dia um pouco mais de adrenalina no Swoop - um swing de 40 metros que te faz voar a 140 km/hr. O bungy jump não rolou dessa vez.... faltou espírito (e um tempo bom). Uf...

O que penso disso tudo? Penso que vou estudar....! ;)
(p.s. mais fotos em meu álbum do orkut)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Viagem de páscoa

Volto na terça de manhã! Atualizando a viagem e os velejos de kite em Takapuna e Orewa! :)
Beijos!!!


Exibir mapa ampliado

domingo, 28 de março de 2010

Shakespeare Park, Army Bay, Piha, KareKare.... imersões!


Saravá querid*s! Não tava querendo muito postar assuntos sobre "métodos combinados de pesquisa"... sei que vocês entenderiam, apesar de estar super empolgado com as leituras. E, seguindo orientações de meu supervisor Derek Hodson (que me disse "don't forget to be a tourist!" num inglês super claro aos meus ouvidos), ando equilibrando mais minhas imersões bibliográficas, e investindo em outras imersões. E nada melhor do que ir velejar num dia de vento sul (ou "ventsuli", em bom manezês). O lugar se chama Shakespeare Park (primeira foto).  Que praia....! Sem muvuca, cheio de grama ao redor...  à altura do poeta. E um mar perfeito pro velejo "meditativo" - ondas do tamanho certo, nem fundo nem raso, num visual indescritível. Foi desligar a cabeça e contemplar. De vez em quando arriscar umas manobras (e acordar o macaco!), mas basicamente relaxar e gozar. Foi meu melhor dia na Nova Zelândia. Perfeito. O azul do céu abrindo aos poucos, a água ficando transparente... três sessões de velejo, com intervalos de frescobol... Aliás, frescobol não tem aqui (pelo menos não vi). É que nem sunga. Pois é. Acham graça de homem com sunga. Estes dias fui comprar uma sunga e o cara riu de mim (devia ser um neozelandês meio gaúcho). Eu hein! Então imaginem um homem de sunga jogando frescobol na praia... "Estranho", no mínimo. Mas voltando ao vento... frio viu?! Como todo bom "ventsuli". E forte suficiente pra dois kite-surfistas se chocarem um contra o outro sem maiores estragos - a não ser um susto, e um corre-corre na praia (não, eu não estava no meio). E pra finalizar, um pôr-do-sol em Army Bay, que foi o Ó! Isso tudo neste último sábado. E me dei um domingo de relax e estudos leves...com passeios ao redor da cidade (incluindo uma visita ao hospital da cidade com suspeita de fratura de um dedo do pé, neste velejo). Ê macaquice!

E no final de semana passado, num post meio "ad hoc", um passeio por Piha e KareKare (respectivas fotos ao lado). Praias do oeste da ilha norte. KareKare foi um dos cenários do filme "O Piano". Águas mais revoltas, marés gordas, e areia preta. Tinha mais salva-vidas do que banhistas. Nada muito convidativo. Mas impressionante.

Isso tudo num raio de 80Km de Auckland... é mole? E hoje, segunda feira, um vento leste deve me arrastar pra Orewa. Após uma manhã que rendeu alguns parágrafos não só no blog.... E no dedo do pé, gelo!!! (aqui os técnicos de raio-X também entram em greve)

O que penso disso tudo? Métodos combinados de pesquisa....!

quarta-feira, 17 de março de 2010

"Se a tranqüilidade da água permite refletir as coisas,o que não poderá a tranqüilidade do espírito?" - Chuang Tzu

Os budistas chamam a nossa mente de "mente de macaco". Dá pra imaginar o motivo, não? Nossos pensamentos pulam de galho em galho, de forma frenética e aleatória, descontrolada. Uma macaquice... E com tantas novidades chegando aos sentidos, tantas imersões acadêmicas, a coisa fica pior ainda. Sem samba de roda, sem maracatu, sem uma boa roda de amigos pra relaxar, a cabeça fica quase que trabalhando o tempo todo.

Bom, pra aquietar o macaco, fui buscar o que fazia em Floripa com alguma frequência: meditar. Tem um centro Zen Budista aqui em Auckland (http://www.aucklandzen.org.nz) - na foto acima. Especial, como as pessoas que o frequentam. Fui muito bem recebido pela mestra (de azul, na foto), que chama-se Amala.

Uma hora e meia de meditação zen, e a gente sai renovado. Na verdade, o tempo que conseguimos ficar em silêncio interior total vem com a prática. E meditar é definitivamente um exercício. E os poucos minutos que consigo me sentir "completamente vazio" reverberam ao longo dos dias. É um tempo com qualidade incomparável ao tempo corriqueiro. Sem tic-tacs.

Bom pra alma.

_/\_

O que penso disso? Não penso.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um vídeo do pequeno Harrison

Aqui vai um vídeo do meu vizinho "Jontex" quando ele for mais crescidinho. E um recado pra rapaziada...



(valeu a dica Letícia!)

domingo, 14 de março de 2010

O "pequeno" Harrison

Segunda-feira começando. O cafofo onde moro é lindo. Pequeno e aconchegante, do meu jeito. Tem um parque bem verde, também  pequeno e aconchegante, do outro lado da rua, onde estudo as vezes. Os donos da casa, que moram em cima, Patrick e Amanda, são nativos daqui, e muito simpáticos. Sem precisar, deixam o jornal do dia na porta pela manhã.

Tem apenas duas coisas barulhentas que fazem parte da rotina acústica da casa, e tiram um pouco o brilho da morada. Uma delas é a geladeira, que faz um barulho sinistro de quando em quando. No meio da noite qualquer crente não ousaria abrí-la, pensando haver um portal para o inferno ali dentro. Parece a morada do diabo, não fosse apenas uma geladeira. A segunda coisa que incomoda, pela manhã, é o despertador. Chama-se Harrison. É o filho de 2 anos do casal. Super pontual: todo dia as 6 inicia seu choro gutural e intercalado por batidas frenéticas dos pés no piso da casa. O que chega aqui deve ser apenas 1/4 do que deve acontecer lá em cima (em termos sonoros), mas é suficiente pra um suspiro profundo. Dá até pena do casal... Eu o apelidei de "Jontex". Ele é definitivamente um tributo à camisinha.Quando eu olho pra ele penso em vasectomia.

A geladeira será trocada hoje, segunda-feira. Quando ao Jontex... Acho que foi por isso que, junto com a decoração da casa, colocaram este quadro do lado da minha cama.

O que eu penso disso tudo? Que as bonecas que as meninas brincam quando crianças deveriam ser mais realísticas - e não propaganda enganosa. O tal do "instinto" materno seria certamente aliviado...

Kite surf em Shoal Bay

Sábado e domingo de velejo. Ventinho frio de sul e sudeste. Bom demais! Super flat. Lembra muito a lagoa da conceição em Floripa em termos de velejo. Só que aqui rola um esquema com a maré. E maré baixa é baixo astral nesse pico, porque merece uma caminhada no meio de uma mistura de lodo com concha no fundo, com pontos onde os pés afundam até os joelhos. Um tanto quanto desagradável... Mas tirando o equipamento imundo,  e os pés cortados, tô batizado nas águas daqui! E conheci o Pedro, kitesurfer de Ilhabela (SP). Pareceria pras próximas aventuras de final de semana. E esperando a maré subir um pouco antes de entrar, uma leitura recomendadíssima de Osho: "Zen".

O que eu penso disso tudo? Quando a maré encher, quando a maré encher!

sábado, 13 de março de 2010

Um blog... why not?

Porque não né? Viajar sozinho e não ter com quem compartilhar os olhares e as impressões é meio... digamos... solitário demais...

Faz 3 semanas que cheguei em Auckland, Nova Zelândia.

Em 3 dias de minha chegada achei um cafofo gostoso em Freemans Bay, nos arredores do centro. Bem localizado, e muito verde. De lá pra cá muita coisa aconteceu, e o tempo tem passado rápido, pela intensidade dos dias. E o tempo deve mesmo passar proporcionalmente à intensidade dos nossos sentidos...

Do achado do cafofo, comecei a explorar os arredores nos finais de semana. Em termos de diversão, o centrão da cidade é uma panacéa. Tem de tudo, menos nativos (ou os mais loucos). Como vou ficar apenas 5 meses, não tô muito pra essa mistureba. Acabei ficando pela Ponsonby Road - uma avenida a uma quadra de casa e cheia de vida, de dia e de noite. Aqui é onde acho o pessoal nativo se divertindo. Foi nesta avenida que acidentalmente - e quase todas minhas descobertas aqui têm sido acidentais - encontrei um bar ótimo, chamado "One Two One" (o da foto). Abre meio-que-quando-querem, e frenquentado por gente mais velha. Dentre as atrações musicais ao vivo das mais variadas (de velhas loucas gritando no piano, a blues e jazz de primeira) tem um gato gordo e ronronante que pula no colo das pessoas e dorme. Dormiu em cima de mim. "É um batismo", disse um senhor pra mim (naquele sotaque nativo de ameaçar tudo que tu até então eu entendia como "inglês").

 Minhas saídas têm sido mais antroplógicas do que qualquer outra coisa. Quem me conhece sabe que sou um homem de poucas palavras, e muito observador.

E tenho visto cada cena....

Uma delas? De lá geralmente vou pro "The Crib", na esquina de casa. Um bar de gente jovem, bonita e muito, muito embriagada. Já chegam doidos no local pelas 11 da noite... Uma vez vi uma garota cair repetidamente no chão em meio a uma dança um-tanto-quanto-estranha (cheguei a pensar que era étnica!), e depois de acertar a guitarra com a cabeça, acabou caindo em cima de um copo que estava no chão e, com a mão sangrando, insistia em re-visitar o chão (o tal do "geotropismo positivo"). Ria que se acabava. Isso no Brasil até que seria um atrativo, mas lá ninguém reparava. "Normal". Até porque não era só ela que caía... Bandas boas tocam ali, junto do pessoal. E são muito pacientes com o público. O gerente é um curitibano, André. Gente fina. Um dos poucos sóbrios da casa. E a festa acaba cedo aqui.

Do meu jeito...

O que penso disso tudo? Se no começo tudo isso parecia estranho, descobri que o estranho sou eu.