sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sobre o inflamável espírito natalino...


Numa dessas noites de natal, que eu nunca sei bem o que fazer, meu querido amigo e poeta Cesinha convidou alguns desgarrados do natal para uma espécie de ceia. Junto à mesa, um inesperado boneco do papai noel aguardava os convidados e convidadas. Estava numa posição central, como que observando todos os movimentos (e pensamentos) dos presentes. Parecia meio assustado com os olhares e risadas que o ridicularizavam. Perto da meia noite, quando já estávamos de barriga cheia, nosso anfitrião tomou o bom velhinho no colo e o levou pra fora, onde o acomodou confortavelmente numa fogueira armada. Nós, também já ligeiramente embriagados, clamávamos pelo fogo, até que nosso poeta abriu uma folha e leu um manifesto. Era quase que uma sentença de morte ao bom velhinho. Um blá blá blá inflamável, por assim dizer. Ao final, novos clamores: “queimem o bastardo!”, “viva o saci!”, “toca Raul!”, e por aí afora. O manifesto foi colocado junto da fogueira, e antes que o velhinho entrasse em combustão espontânea pelo calor do momento, nosso poeta declamou finalmente seu fósforo incandescente. A êxtase do povo ao redor durou cerca de um minuto (foi o tempo de eu tirar essa foto). Um silêncio gélido tomou conta dos que testemunhavam aquela cena, rompido rapidamente pelo choro de uma criança que estava ali e que os pais já a afastavam. E o silencio insistiu. O fogo, por si só, já chama por introspecção. Mas no meio da chama estava o velhinho, aquele que marcou a infância natalina de muitos ali presentes. A cena virou poesia, daquelas que nos devoram em imagens. Queimávamos por dentro. Descobrimos um papai noel dentro de cada um de nós, que no momento ria da gente de um jeito sarcástico, se vingando das chamas que agora já o lançava ao ar que todos ali respiravam. As brasas deixaram a sensação de um exorcismo. Depois do gelo do fogo, novos brindes e os sorrisos voltavam aos poucos.

O que penso disso? Que o bom velhinho existe, mas a boa notícia é que ele é bastante inflamável!

Nenhum comentário:

Postar um comentário